07/2008 (Sérgio Bernardo, Aviation On Line)
O arquiteto e designer de interiores especializado em aviação fala sobre a importância de se oferecer um bom produto e um serviço de qualidade como forma de conquistar e manter fiel o passageiro.
Qualidade tem a ver com a verdade, não com o logro; com idéias, e não com técnicas; com o duradouro, e não com o efêmero; com precisão, e não com preciosismo; com sutileza, e não com alarde; com sensibilidade, e não com sentimentalismo; com competência e profissionalismo, e não com simulações; com a descoberta de analogias e contrastes; com a conjugação de elementos formais e funcionais; com proporção e harmonia; com criatividade...
É possível associar todos estes conceitos a qualquer produto com relativa facilidade, pois é próprio da natureza humana investigar tais características no universo que a obra encerra, nunca além desta fronteira. Depende, pois, de maior percepção e sensibilidade atribuir conceitos de qualidade a um serviço ou, mais ainda, à prestação de um serviço.
A qualidade de um serviço é um atributo que deve ser tangível a exemplo de um produto, sob pena de não ser percebida. Todo consumidor - de produtos ou serviços - precisa sentir o que está adquirindo. Tem a ver com a apresentação, forma, arquitetura, função e capacidade de realização contidos na expectativa do usuário. É o delivery da promessa.
Da mesma forma que o próprio mercado ensina que abrir mão da qualidade é decretar o insucesso de um produto, também na prestação de um serviço, permanecer nos limites da retórica pode causar o mesmo efeito. Por mais eloqüentes que sejam os apelos em favor da qualidade, esta precisa ser percebida pelo consumidor para que a realização se mostre eficiente. Somente com a tangibilidade da qualidade isto pode ser conseguido.
Semelhanças existem por falta de criatividade; pelo uso do óbvio, que muitas vezes parece o mais correto; por repetição de um modismo. Toda a criação parte de um repertório adquirido e isto leva à procura de elementos que ultrapassem os compromissos formais com os padrões estabelecidos: é a busca da diferenciação. Início de um processo que, agregando-se características de tangibilidade ao atributo qualidade, pode se transformar em modelo de referência. Atinge-se, então, o invejável domínio da qualidade exclusiva.
A “conquista” de Sua Excelência, o passageiro, ante a concorrência obstinada é um processo tênue que depende da eficiência e criatividade na prestação do serviço em cada elo da cadeia que vai levá-lo ao interior de um avião. Desde a promoção da venda, passando pelos pontos de contato no aeroporto, que potencializam a expectativa, até a última etapa, que se inicia já no interior do avião, onde se estabelecerá o parâmetro principal de comparação na prestação do serviço, a opção do passageiro por uma companhia aérea não pode ser considerada como definitiva. Mais do que conquistar um cliente – o que pode ser efêmero – é necessária a sua completa sedução... E isso só pode ser conseguido a bordo, pela excelência do serviço, pelo conforto e funcionalidade do equipamento e por todos os fatores que demandem competência e pontualidade. É lá, somente no interior do avião, que se realiza o “delivery” da promessa.
Ao tentarmos identificar as ferramentas mais importantes que as empresas utilizam para levar ao interior dos aviões os elementos de inovação e personalidade com os quais procuram a diferenciação, o que temos constatado é que essa busca tem sido canalizada através do conceito de “marca” (branding) e investimentos maciços em design. Dar atributos tangíveis aos elementos conceituais da estratégia de consolidação de um serviço é tarefa delicada e depende diretamente da percepção de qualidade que foi investida nos recursos que materializam o espírito contido no conceito de “branding”. É preciso, pois, que todos os elementos tangíveis que façam parte da atmosfera construída através do conceito reúnam, além da funcionalidade, conforto e coerência estética... a essência da identidade corporativa da companhia aérea.
Nessa direção temos observado gestores de importantes empresas estruturarem áreas estratégicas focadas diretamente no desenvolvimento dos principais elementos da cadeia onde o cliente tem os seus “momentos da verdade”. Na menina dos olhos está a cabine de passageiros dos aviões e todos os conceitos de serviços e produtos que transformam “qualidade” em recurso tangível. Gerenciar o elenco de influências que definem “produto” e agregam valor ao serviço requer equipe de especialistas afinados com a filosofia corporativa. Uma boa estrutura para o desenvolvimento de produtos deveria abranger as seguintes áreas:
- Marketing (branding), que traduz o espírito, a estratégia de posicionamento, a filosofia corporativa e os requisitos do mercado em produtos “conceituais”. Define o conceito e a política de implementação do serviço.
- Serviço de Bordo, que se encarrega de materializar o conceito através do desenvolvimento dos produtos de natureza dinâmica (sotware), em função do consumo e renovação, e da entrega desses produtos ao cliente.
- Entretenimento, pela dimensão que os novos sistemas alcançaram no conceito de “produto de alto valor agregado” oferecido ao cliente. Atualmente é um dos mais importantes elementos de diferenciação.
- Design de Interiores, que transforma o conceito em produto tangível através do equipamento fixo (hardware) a bordo dos aviões - poltronas, lavatórios, monumentos - além do próprio ambiente arquitetônico que é o interior de um avião, traduzida pela seleção dos materiais de acabamento, decoração e iluminação da cabine.
Ante a percepção do passageiro, o vôo seguro é condição básica da prestação do serviço pelo qual ele paga. Entretanto, a falha numa poltrona, um lavatório inoperante, uma projeção de vídeo deficiente, uma comida fria, uma bebida quente e, até mesmo, a falta de um sorriso representam expectativas frustradas que podem levá-lo diretamente aos braços do concorrente na próxima viagem. A perfeita integração das diversas áreas de gerenciamento e desenvolvimento de produtos representa a verdadeira vantagem competitiva na oferta de um serviço consistente.
Sérgio Bernardo é arquiteto e designer de interiores. Trabalhou em engenharia de aeronaves (interiores) na VARIG e na VEM e hoje é consultor independente. É de autoria de Sérgio Bernardo a logomarca de Aviation On Line. Contatos pelos telefones (21) 2622-3795 e 9642-5921 ou pelo e-mail sergio.bernardo@uol.com.br.