As prefeituras das cidades por onde o trem de alta velocidade (TAV) Rio-São Paulo vai passar estão avaliando o estudo referencial publicado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e sugerindo alterações no projeto. Entre os problemas encontrados pelas administrações públicas estão o risco de segregação de bairros e a passagem da linha em áreas de proteção ambiental. Muitas, no entanto, ainda nem tomaram conhecimento do estudo.
Em Campinas, no intervalo entre o aeroporto de Viracopos e a via Anhanguera, o trem-bala passa por dois bairros pela superfície, causando a segregação das áreas. A prefeitura reivindica à ANTT que esse trajeto seja subterrâneo, o que evitaria a divisão dos bairros.
As prefeituras estão sendo orientadas pela ANTT a enviar suas observações por escrito até o fim do período de consulta pública do TAV, adiado para 15 de outubro. O prazo já foi estendido por duas vezes para atender a necessidade dos interessados por mais tempo para avaliação.
A prefeitura de Campinas também reivindica que a estação do TAV, que ficará no centro da cidade, seja instalada no terminal rodoviário, e não no ferroviário, como prevê o estudo. A mudança do trajeto representa uma diferença de 400 metros e o secretário de Transportes da cidade, Gerson Luis Bittencourt, diz que a alteração se justifica pela estrutura existente no terminal rodoviário, mais adequado para receber os Passageiros.
"Pelo traçado, o TAV passaria ao lado da rodoviária, mas não pararia. Nossa proposta foi bem aceita", diz. As duas sugestões ficaram de ser analisadas pela ANTT e, segundo Bittencourt, não representariam alteração nos custos da obra.
A prefeitura de Jundiaí quer que o o trem-bala siga o traçado da rodovia dos Bandeirantes, em vez de entrar na cidade e gerar novas desapropriações. Segundo Spina, a construção do trem-bala deve acarretar a desapropriação de uma área total de cerca de 1,5 milhão de metros quadrados (m2) na cidade, considerando que a linha de alta velocidade percorrerá 25 quilômetros (km) dentro de Jundiaí.
A resposta que tiveram é de que o a rodovia tem muitas curvas, o que não permite que o trem alcance a velocidade esperada, de até 300 km/h. "O projeto pode perder em tempo, mas ganhar em qualidade. Acredito que não seja possível seguir toda a rodovia dos Bandeirantes, mas poderia ver qual o máximo de aproveitamento", diz o secretário Spina. Outra opção seria fazer esse percurso por túnel, o que, porém, é mais caro.
A maior preocupação da prefeitura é com a Serra do Japi, área de proteção ambiental próxima à rodovia Anhanguera. Segundo o traçado referencial, o trem-bala deve passar pela serra, apesar de a ANTT informar que a linha se aproximará no máximo 700 metros. "Estamos questionando a ANTT sobre como resolver o problema do impacto ambiental", diz Spina.
Jundiaí concentra várias complicações, pois o trem-bala passará por áreas de proteção ambiental, por zonas urbanas e pelo distrito industrial, próximo a empresas como a fábrica da
O trem-bala exigirá investimentos novos nas cidades, como no caso do aeroporto de Jundiaí. Segundo Spina, o movimento do aeroporto deverá aumentar com a desativação do Campo de Marte para abrigar uma estação do TAV, pois haverá migração de voos executivos de São Paulo para a cidade. "Nosso aeroporto teria que ter um aumento de capacidade", diz ele.
A prefeitura de Jundiaí faz questão de mostrar, porém, que não é contra o trem, mas quer garantir sua participação na definição do projeto. "Toda vez que há intervenção na cidade, gera um desconforto para as pessoas. Por isso queremos ter a oportunidade para avaliar o projeto, ver o que ele significa em avanços e em problemas", diz o prefeito Miguel Haddad.
O prefeito de Caieiras (SP), Roberto Hamamoto, levou um susto quando viu o estudo do trem-bala e descobriu que a linha deve passar por cima do prédio novo da prefeitura, que ainda nem terminou de ser construído. "Queremos ver direito a questão do traçado", diz ele. O prefeito se queixa que o trem-bala atravessará bairros muito populosos. "Sem estação, a cidade só fica com os prejuízos."
O gerente do projeto de implantação do trem de alta velocidade da ANTT, Roberto Dias David, explica que o período de consulta pública serve justamente para que o governo federal fique ciente das preocupações das áreas envolvidas. "Quanto mais informações forem disponibilizadas, mais sugestões, melhor", diz ele.
O prefeito de Itupeva, Ocimar Polli, por sua vez, questiona se as considerações das administrações municipais terão peso importante na decisão do traçado definitivo do TAV. "O desenvolvimento urbano das cidades pode ser afetado pelo projeto, é importante que nossas opiniões tenham peso", diz.
O representante da ANTT diz que a intenção é que não haja total desacordo com ninguém, e que a agência pretende atender a todos os interessados dentro do possível. "O que o governo fez, para ter ideia dos custos e avaliar a demanda, foi definir um traçado referencial. Ele está definido no nível de estudo e não de projeto", diz David. Segundo ele, as empresas que vão participar da licitação é que deverão fazer as propostas de traçado final, considerando o estudo que o governo fez ou não, mas respeitando as exigências do edital.
Em Guaratinguetá (SP), a última notícia que a prefeitura teve sobre o trem-bala foi uma visita de técnicos da ANTT à cidade em janeiro. O secretário municipal de Planejamento, João Ubiratan de Lima e Silva, acompanhou dois engenheiros pela cidade para conhecerem os locais por onde a linha poderia passar, entre eles a área rural da Colônia de Piagui. "Se passar mesmo pela zona rural é a melhor opção, gera menos impacto", diz ele. Segundo Silva, os produtores não serão afetados, porque a área a ser desapropriada será pequena e o trem deve passar por elevado, a dez metros do solo.
A expectativa da prefeitura de Guaratinguetá é que seja confirmada uma estação na cidade de Aparecida, a 6,5 km da cidade, o que incentivaria o turismo religioso na região. "Isso seria um grande ganho para a cidade. Senão, não teremos benefício nenhum com o trem-bala", diz Silva. Segundo ele, porém, a prefeitura só entrará com essa reivindicação após a construção da linha.
Fonte: Diario do Turismo